19/12/2016

tóxico


eu corro para as águas
despejando-me em seu rio
os tambores ainda fazem barulho
engulo doses de lebranças e vomito depois
não me ponha em seu coração
tóxico, suspira para dentro da carne

despejando-me em seu rio
despejando-me em seu rio
sufoca-me em seus abraços

eu desejo uma noite de silêncio
correndo pelas árvores
a pele dos infames esta em minhas mãos
ouça o som dos avisos
adagas, espadas cravadas em peitos solitários
o frio corrói a espinha
mas o espirito grita por dentro

despejando-me em seu rio
despejando-me em seu rio

06/12/2016

Devaneios e alheios



Esse mês tem sido difícil, muito difícil. Lidar com os meus monstros mentais nunca é leve ou simples, tento esquivar de alguma forma, mas nunca consigo. Nesses dias fazer um chá de hortelã e ouvir uma música não está fazendo nenhum efeito, nem respirar fundo, muito menos citar o alfabeto em voz alta. NADA. Me sinto encurralada, presa, inválida, uma inútil. Talvez seja pelo fato de ter perdido meu emprego, todos falam que é isso e logo me chegam com: Ah! a crise é assim mesmo, mas procure mais e irá achar. Eles não sabem a ânsia que sinto.

Hoje é mais um dia ruim. Acordei tarde e assisti TV. Depois de andar inúmeras vezes pela casa fazendo círculos decido ocupar minha mente com um livro. Leio, leio e leio. Livro fascinante, Rachel me desperta pena e curiosidade ao mesmo tempo, uma alcoólatra trocada pela amante que agora está envolvida em um desaparecimento. Eu penso em fazer um livro e desisto da ideia por motivos idiotas impostos por uma mente impaciente e insegura.

Enquanto o quarto ficava cada vez mais fechado e a vontade de sufocar no travesseiro aumentava, resolvi num impulso mudar aquilo tudo. A vontade vem de dentro, nem sei de onde surgiu, em um piscar de olhos estava eu tomando banho ouvindo uma playlist anos 80. Sinceramente, eu não sei descrever o que aconteceu. Me vesti rápido short jeans, blusa sem manga e uma bolsa simples. Tranquei a casa e de repente estava do lado de fora. Tudo assustador, meu coração acelerou.

Não consigo andar devagar, parece que sempre estou atrasada ou correndo de alguma coisa, quem sabe dos burburinhos da própria mente. Alguém desconhecido anda ao meu lado e ai mesmo que começo a acelerar o passo. Acho que ele me acha louca. Eu sou.

A rua barulhenta, carros, motos, risos altos e crianças correndo. Nas vitrines as roupas do final de ano brilham e chamam a atenção, resolvi buscar algo. Vou a uma lojinha perto de casa, não queria andar muito. Comecei a discorrer sobre várias coisas que não me recordo o que eram, o mundo quem sabe, mas é incrível nossos pensamentos falando no alto de nossa cabeça. Meus monstros murmuravam tanto que não ouvia as pessoas direito, me perco em algo que desconheço. Será que todos tem esses "problemas mentais"? Olho para os rostos em minha volta, no automático. Eles vivem em um mundo diferente como eu ou eles só estão vivendo? Só indo com o vento. Eu queria poder fazer isso, eu me acho egoísta por querer mais. Eu sou? Querer viver algo que me deixe feliz e satisfeita.

Se quiser ser feliz, independente de onde esteja, seja. Quem sabe os robôs no piloto automático são mais felizes que eu, lógico. Parar de pensar ou se perguntar e apenas ir. É!! Positivo, positivo, pense positivo! Esqueça os que estão fodidos por aí, esqueça o mundo, esqueça os questionamentos. 

Não posso. Devo parar de enfrentar minha mente como um monstro e começar a aceitar seus questionamentos e sua solidão. "Só viver" é tão triste quanto isso. Eu vejo o mundo com outros olhos, olhos famintos por algo mágico que a maioria não pode ver. Poeta? Eu diria que não. Juliane, deixe disso, sente-se e tome um café quente. Deixe estar, vai melhorar. E eu volto para os meus monstros.